domingo, 29 de janeiro de 2012

A Poesia de Bob Dylan

Muitos tinham mais presença de palco que Dylan, eram ou mais performáticos, ou mais coloridos, ou mais brilhantes de glitter, ou mais esfarrapados e vira-latas. Bowie era bem mais excêntrico. Iggy era bem mais selvagem. Springsteen bem mais enérgico… E ele? O que é que Dylan tinha demais? O que o distinguia de todos os seus contemporâneos? Por que foi entronado como um ícone cultural desse tamanho? Como pôde ser transformado em mito sem nem precisar da morte, a grande mitificadora?


O poder de Bob Dylan parece emanar, sobretudo, de sua poesia. A voz anasalada e hoje já embargada do velho Zimmermann, com seus 70 anos de idade, não é lá grande coisa quando comparada à de um Sinatra ou uma Ella Fitzgerald. Suas melodias, tampouco, eram tão imediatamente memoráveis quanto às de Lennon & McCartney.
Dylan disse que quando não se tem nada, não há nada a perder. Ele tinha talento de sobra, mas acredito que ele ainda não saiba disso. Diria anos mais tarde, Janis Joplin, que ele era apenas o carteiro que entregava letras a grandes vozes. Um pessimista misantropo, segundo Joan Baez e, talvez ela, seu grande amor. Bloewing In The Wind ficou arduamente suave em sua bela voz. Eles tinham grande sintonia. E foi ela quem o classificou como um poeta sonoro, que dá letra a quem tem melodia.
Então, não conheço resposta melhor que esta: foi a poesia. Difícil acreditar que a poesia possa tudo isso? Mas quem foi o miserável que inventou a mentira abominável de que a poesia é algo… impotente? Que ideia pouquíssimo poética, digna de burocratas! Os maiores poetas são aqueles que, justamente, acreditam na potência da poesia. Sabem que palavra não é uma coisa à toa, uma bestice sem relevância, um punhado de fonemas que se dissolve ao vento. Sabem que palavras mudam consciências, animam sentimentos, despertam entusiasmos, apontam estrelas. Sabem que falar é agir, e que a palavra cantada (melodiada, rimada e ritmada) talvez haja com ainda maior eficácia e impacto do que aquela aprisionada no papel. O grande poeta sabe que discursos movem e comovem. Que são instrumentos de transformação (inclusive social, política, cultural). Que não há revolução silenciosa.
Com sua inebriante voz, Bob Dylan mergulha adentro da mente do poeta atormentado, aquele que se dispõe a dor, ao sofrimento, que se doa inteiramente à poesia. Essa, talvez seja a função desse poeta imortal, causar revolução nas mentes brilhantes que o escutam.



P.S.: Texto adaptado para os padrões universitários de professores ignorantes.










Mona M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário