domingo, 29 de janeiro de 2012

O Estilo e a Singularidade

Dar forma à vida é criar um estilo. No latim, o termo “stilu” designa um instrumento com ponteira de osso de chifre, de madeira ou de metal, usado para escrever e com uma extremidade em forma de espátula, para anular os erros gráficos. Então, podemos inferir a relação entre estilo e estilete, instrumento cortante que possibilita a inscrição da força.
            O estilo é, então, um compromisso entre as duas práticas possíveis: o uso da ponta para escrever e o uso da espátula para apagar. Um instrumento que nos possibilita escrever nossos desejos sobre a tábua áspera do mundo e também esquecer os erros e seguir adiante na travessia temporal.
            Nietzsche dizia que só o esquecimento do passado pode nos aproximar da felicidade. Esquecer é aqui entendido como a capacidade de abandonar os ressentimentos e projetar-se em direção ao desconhecido, criando o futuro.
            Para transformar a vida em obra de arte é necessário agir como um artista: apoderar-se do estilo e inscrever seu desejo na matéria do mundo.
            Para conduzir o barco da vida é preciso coragem e determinação, é preciso aventurar-se, pois viver não é uma tarefa fácil.

             No século I a.c., o general romano Pompeu, encorajava marinheiros receosos, inaugurando a frase “Navigare necesse, vivere non est necesse.”
Corria o século XIV e o poeta italiano Petrarca transformava a expressão para “Navegar é preciso, viver não é preciso.”
“Quero para mim o espírito dessa frase”, escreveu depois Fernando Pessoa, confinando o seu sentido de vida à criação.
E cantando a coragem navegante, em jeito de fado brasileiro, Caetano Veloso escreveu Os Argonautas. “Navegar é preciso, viver …” Com um fim inacabado, a música lança as interrogações.
Navegar é preciso?
Sim! Navegar é uma viagem exata. Fazia-se com bússolas e astrolábios. Hoje, faz-se com satélites, GPS’ e www’s.
Viver não é preciso?
Não! É uma viagem feita de opções, medos, forças, inseguranças, persistências, constâncias e transições …
Mais de 2000 mil anos depois, interrogamo-nos:
Viver não é preciso?
Não, quando navegar é sonhar, ousar, planear, arriscar, empreender, realizar…
Porque aí, navegar é viver!

Não há precisão nessa vida. Tudo é incerto, então, navegar é preciso. Se a vida deveria ser bem melhor do que é, então, navegar é preciso.”
            Fazer da vida uma obra de arte é uma possível direção. Alçar âncoras e navegar é a exigência ética fundamental.
           
Mona M.

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