terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ao vinho

Sobre os lábios da tarde, ardentemente,
deposito um beijo longo e suave,
como o toque da boca sobre o cálice.
Quero beber do teu sangue como vinho,
tinto, escuro, aveludado e límpido.
Neste leito desafios e presságios
quero me embriagar com teu corpo, ousado!
Teu aroma e sabor resistem ao tempo,
como um cabernet velho e encorporado,
amadurecido lentamente sob o peso dos sonhos
mais sagrados e do mistério das uvas.
Quero cortar teus pulsos e, nos longos fluxos vermelhos,
saborear o gosto das artérias...
Copo nas mãos e a faca entre os dedos,
à luz do reflexo vivo da lâmina.
Já ouço, ao longe, o som dos teus passos,
e, neste terraço solitáriov ergo minha taça
e através da névoa mágica do vinho,
vejo teus olhos... Ouço, imagino, sonho
fragmentos de carícias a caminho do paraíso.


É Preciso

Não faço mais que sentir
ou pressentir
sons ditos em surdina,
talvez ouvir
murmúrios só pensados
incompletos sonhos
imaginados.
Não sei sequer refletir
a nua realidade
que, estranha, me atravessa.
Será verdade?
Não quero senão sentir!
Que o que restar
me passe ao lado depressa.
Longa será a viagem,
é preciso voar.

Mona M.

Carta ao Passado

Venho por esta dizer-te
que as nuvens passam no céu,
como em qualquer outro dia
daqueles em que o sol hesita.
Por isso esta breve escrita,
do tédio que me envolveu
quando a chuva não sabia
se apagava o Verão aqui.
E mais te dou a entender
nestas pequenas letrinhas,
espelho de ansiedades minhas
neste dia e nesta hora
em que me lembrei de ti:
por mais que tentes, agora,
neste momento preciso,
eu não sei se chove aí.


Mona M.

Drama existencial

Eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodka.
Passa-me o cigarro.
 Não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive.
Nothing special, baby.
Não sou louca e nem estou bêbada, apenas sóbria pra caralho e sei que não tenho nenhuma saída. Não te preocupa, meu bem, depois que você sair, tomo um banho frio, leite quente com mel de eucalipto, gin-seng e diazepan.
Depois deito, durmo, acordo e passo uma semana a banchá e arroz integral.
Absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa.
Depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, caio no chão, faço aloka, ligo pro CVV às quatro da manhã e alugo a cabeça de um panaca choramingando coisas do tipo: “preciso tanto de uma razão pra viver e sei que esta razão está dentro de mim e bláblábláblá” .
Faço uma lamúria até o sol pintar atrás daqueles edifícios sinistros, mas não te preocupe, não tomarei nenhuma medida drástica, a não ser continuar.

Tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé alguma?


Mona M.

Cântico Negro

 “Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam e mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"

Se eu fosse...

Se eu fosse um mês seria agosto.
Se eu fosse um dia da semana seria segunda-feira.
Se eu fosse um número seria 13.
Se eu fosse um planeta seria Saturno.
Se eu fosse uma direção seria Sul.
Se eu fosse um móvel seria Cadeira.
Se eu fosse um líquido seria Chuva.
Se eu fosse um pecado seria Gula.
Se eu fosse uma pedra seria Quartzo rosa.
Se eu fosse um metal seria Prata.
Se eu fosse uma planta seria Um pinheiro nórdico carregado de neve.
Se eu fosse uma fruta seria Morango (mofado)
Se eu fosse uma flor seria Margarida
Se eu fosse um clima seria Frio.
Se eu fosse uma estação seria Outono.
Se eu fosse um instrumento musical seria Piano.
Se eu fosse uma cor seria Preto.
Se eu fosse um animal seria Corvo.
Se eu fosse uma canção seria Moonlight.
Se eu fosse um aroma seria Cheiro de terra molhada.
Se eu fosse um sentimento seria Dor.
Se eu fosse um livro seria Orgulho e Preconceito.
Se eu fosse uma comida seria Chocolate amargo.
Se eu fosse uma bebida seria Vinho tinto.
Se eu fosse um gosto seria Doce.
Se eu fosse uma palavra seria Poesia.
Se eu fosse um verbo seria Ler.
Se eu fosse uma peça de roupa seria Casaco.
Se eu fosse uma parte do corpo seria Cabeça.
Se eu fosse uma expressão seria "Wish I could fly" .
Se eu fosse um desenho animado seria Caverna do Dragão.
Se eu fosse um filme seria Casablanca.
Se eu fosse uma forma seria Livre.
Se eu fosse uma frase seria "Minha solidão independe da presença ou ausência de alguém. Odeio quem me rouba a solidão sem verdadeiramente me oferecer companhia."






* Texto de Jean de La Bruyère, adaptado aos meus interesses.

Mona M.

Acid Burns (3)

Sem cafeína no sangue...

Sabe aquela fria-miserável-desgraçada que vos falou outro dia?! Bom, hoje ela foi ao dentista.
Ela ainda não disse, mas tá tão mudada que até anda dando seu testemunho antidrogas para quem quiser ouvir. Já faz tempo, inclusive, que nem um analgésico oióide ela toma.
É necessário que fique claro que ela parou com tudo, porque fica altamente nervosa quando se sente fora de si. Etiquetas de roupas tornam-se pinicastes demais para o corpo dela. Sua existência se eleva a níveis insuportáveis, suas pernas se tornam pernas demais. Entende?! Nem eu!
A clareza nem sempre é o forte dela e especialmente agora, ela não está dando importância a isso.
O que a ela interessa agora é que acreditemos que ela quer, mais do que tudo na vida, estar no mesmo lugar de suas próprias sensações, mesmo as mais tenebrosas. Não gostaria de perder um só detalhe, nessa nova chance que tem, de reviver uma realidade descrevendo-a sem disfarces. Procura, então, demonstrar todos os seus mecanismos que a levam a reagir como reage e a fazer o que faz. Precisando reabrir seu universo mais secreto, aquele que escondemos o melhor possível em nossas profundezas, por ser onde guardamos gravados os instantes exatos dos nossos sentimentos mais vis e escrotos. Já que ela está assim, nesse estado, quer averiguar sua inveja, olhar de perto seu rancor, cheirar suas feridas. Sentir de novo as cicatrizes de um masoquismo de uma vida inteira. Seja adorando outra vez aqueles que não a quiseram, ou rastejando em agradecimento àqueles que ainda querem comer seu cu. As pessoas assam a vida inteira tentando abafar essa existência interior; não ela; ela vive ali, naquele recinto, observando suas taras, crueldades e egoísmos. Explicando-os para fora, então, precisa-se de todos os sentidos em alerta.
Então, o dentista. Lá usou gaz hilariante pela primeira vez. Bá! Americano é foda mesmo. Putav invenção. Nunca sentiu algo assim, sério. Ela delirou na broca. E dizem que nem faz mal à saúde. Não é sensacional? Um planeta que tivesse óxido nitroso em sua atmosfera, seria, enfim, um mundo feliz.

=]

TO BE CONTINUED...




Mona M.

domingo, 29 de janeiro de 2012

A Caixa de Pandora

“Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinhos, há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas e há também, as que ignoram a existência das flores!” (Machado de Assis).

Notou que os ladrilhos formavam pequenos desenhos no chão do pátio, como flores desmaiadas. Usava um vestido de algodão, com pequenas riscas, era bom estar ali. Os cabelos estavam soltos e penteados pelo vento frio.
Sorriu.
Clotilde corria até ela saltitante, transbordando a felicidade do reencontro.
Entraram em casa, foram até o quarto, no mais profundo silêncio.
            - Vamos dar um pequeno show! Dizia ela entusiasmada. Clotilde concordou.
            Olhou ao seu redor. Era o melhor lugar do mundo, sombrio, gélido, entulhado de tralhas que insistia em guardar na confusa memória.
            -Que tipo de show? Perguntou Clotilde aflita, por conhecer bem as nuances da amiga.
            -Vou improvisar, me siga!
            Ergueu seus braços ao máximo que pôde, deu um impulso que fez com que tirasse os pés do chão e alguns segundos depois estava sobressaltando pelos cantos. Clotilde sabia que ela nunca havia experimentado tamanha felicidade. Puxou-a pela mão e logo estava voando também. Como num passe de mágica, agora voavam sobre um enorme lago na fria Sibéria, dando voos rasantes na água.
            Podem voar, não tenham medo! Isto é só um sonho!                
De repente lembrou-se que tinha que voltar. Eram 7 da manhã e precisava levantar. Era a pior hora do dia porque significava recomeço.
        Dentro de si continha um gigante desejo de agradar e jamais deixaria alguém fazer algo por ela, seu orgulho era um revólver apontado contra sua cabeça.
        A sensualidade estava em arrumar as gavetas e tirar o pó das prateleiras. As camisas deveriam estar organizadas de acordo com suas cores e os objetos arrumados esteticamente de forma que aproximassem aqueles que talvez estivessem a distância.
          A vida era perfeita se vivida de fora, distantemente, longe de qualquer coisa que a envolvesse de fato. Faria tudo para disfarçar seu temperamento fleumático. Gostaria de estar visceralmente ausente, sem as náuseas que frequentemente a acompanhavam.
Enquanto arrumava e limpava, procurava mentalmente um assunto que pudesse ser interessante para ser comentado durante o chá, na reunião da “liga”.
Os livros já estavam enfileirados de acordo com os assuntos. Usou um critério, a princípio caótico: esoterismo, educação, romance, filosofia. Pegou um livro por alguns instantes. Ah, Novok! Uma centelha de luz em meio a duas escuridões, assim ele definiu a vida e assim ela o definiu. Voltou à organização, seus livros foram colocados numa ordem crescente de tamanho. Foi difícil decidir se Rubem Alves entrava na prateleira de livros didáticos ou de ficção. A literatura infantil encontrou espaço junto aos livros de arte. Faltavam os livros de poesia. Era uma bagunça confusa de livrinhos finos, misturados com belas encadernações que se colocados deitados, ficariam mais sedutores e melhor conservados. Entre as revistas de decoração e moda se perdiam seus cremes, camuflando o desejo de disfarçar suas fantasias.
Foi aí que encontrou a caixa...
Demorou um bom tempo refletindo sobre aquela pílula azul, já tão badalada pela mídia. Mesmo sem motivo, sentia uma ansiedade que lhe fazia ver e procurar perigo onde não existia. Isso aumentava infinitamente qualquer aflição que tentasse se infiltrar em sua mente. Já não conseguia raciocinar com lucidez e suas relações eram restritas a conversas superficiais com as mulheres da “liga”.
Com a caixa em suas mãos, ocorreram-lhe idéias súbitas de extrema coragem e determinação. Era sinistro que sua intuição lhe adiantasse que aquela caixa conteria, no fundo, o mesmo que a caixa de pandora. Se não fosse o peso de suas vísceras, a náusea constante e aquela flatulência, sua imaginação poderia fluir de forma leve, limpa, colorida, provocando quase cataclismos.
Voltou a lustrar a mesa da sala, passou cera no chão. Os vidros pareciam refletir a fluorescência da tarde. Dobrou as toalhas como sempre, no tamanho adequado ao espaço das prateleiras do armário do banheiro.
E a pílula? Talvez seu efeito a deixasse mais leve, feliz e sedutora. O desejo é sonho. Envolvida inteiramente no movimento de lustrar as cadeiras, seu pensamento se deteve por instantes na reunião da “liga”. Não conseguia imaginar a reação das amigas se soubessem da caixa. Certamente a julgariam. Como pôde deixar que a situação chegasse àquele ponto?
Tomou sua decisão e entrou no chuveiro. Usou sabonete especial, o creme para os cabelos. Escolhia cada detalhe pelo cheiro. Colocou a calcinha vermelha, a blusa de musseline, seus sapatos novos e o perfume.
Depois de maquiar-se, examinou seu perfil austero diante do espelho. Ensaiou um olhar de domínio e poder, mas a misantropia de sua alma sobressaia-se a qualquer expressão de disfarce. Riu de toda aquela mediocridade.
Pensou que nenhuma pílula deste mundo poderia salvá-la de si mesma. Tomou a pílula e cancelou sua presença na reunião da “liga”.
Em sua turva visão, tudo estava nublado, como numa manhã cinzenta de inverno. Ainda tentou pegar a caixa, fazendo um gesto inútil até a gaveta da cômoda...

Mona M.

P.S.: O Conto que NINGUÉM entendeu! =[

O Estilo e a Singularidade

Dar forma à vida é criar um estilo. No latim, o termo “stilu” designa um instrumento com ponteira de osso de chifre, de madeira ou de metal, usado para escrever e com uma extremidade em forma de espátula, para anular os erros gráficos. Então, podemos inferir a relação entre estilo e estilete, instrumento cortante que possibilita a inscrição da força.
            O estilo é, então, um compromisso entre as duas práticas possíveis: o uso da ponta para escrever e o uso da espátula para apagar. Um instrumento que nos possibilita escrever nossos desejos sobre a tábua áspera do mundo e também esquecer os erros e seguir adiante na travessia temporal.
            Nietzsche dizia que só o esquecimento do passado pode nos aproximar da felicidade. Esquecer é aqui entendido como a capacidade de abandonar os ressentimentos e projetar-se em direção ao desconhecido, criando o futuro.
            Para transformar a vida em obra de arte é necessário agir como um artista: apoderar-se do estilo e inscrever seu desejo na matéria do mundo.
            Para conduzir o barco da vida é preciso coragem e determinação, é preciso aventurar-se, pois viver não é uma tarefa fácil.

             No século I a.c., o general romano Pompeu, encorajava marinheiros receosos, inaugurando a frase “Navigare necesse, vivere non est necesse.”
Corria o século XIV e o poeta italiano Petrarca transformava a expressão para “Navegar é preciso, viver não é preciso.”
“Quero para mim o espírito dessa frase”, escreveu depois Fernando Pessoa, confinando o seu sentido de vida à criação.
E cantando a coragem navegante, em jeito de fado brasileiro, Caetano Veloso escreveu Os Argonautas. “Navegar é preciso, viver …” Com um fim inacabado, a música lança as interrogações.
Navegar é preciso?
Sim! Navegar é uma viagem exata. Fazia-se com bússolas e astrolábios. Hoje, faz-se com satélites, GPS’ e www’s.
Viver não é preciso?
Não! É uma viagem feita de opções, medos, forças, inseguranças, persistências, constâncias e transições …
Mais de 2000 mil anos depois, interrogamo-nos:
Viver não é preciso?
Não, quando navegar é sonhar, ousar, planear, arriscar, empreender, realizar…
Porque aí, navegar é viver!

Não há precisão nessa vida. Tudo é incerto, então, navegar é preciso. Se a vida deveria ser bem melhor do que é, então, navegar é preciso.”
            Fazer da vida uma obra de arte é uma possível direção. Alçar âncoras e navegar é a exigência ética fundamental.
           
Mona M.

Pessoas Destroçadas



             Chamo-me Aline e tenho verdadeiro pavor de escrever sobre mim mesma. Simpatizo com pessoas aleatórias. Tenho amores platônicos. Nunca sei o que conversar quando encontro alguém. Gosto de ficar sozinha, porque admiro o silêncio e não gosto de palavras ditas em vão. Fico muito quieta quando estou cansada, obviamente, não iria a uma academia nesse estado. Devo parecer assustadora a estranhos, porque a primeira frase que escuto quando converso com alguém é: “Achei que você não fosse com a minha cara”. Tenho horror a plateias, pois acredito que elas possam me esmagar. Sou viciada em coca-cola e vitamina de morango. Sou vegetariana. Detesto sol. Gosto de chuva. Adoro frio. Aprecio livros, sobretudo os de fantasia. Choro assistindo filmes. Sou romântica. Sou muito estabanada. Idolatro animais, principalmente formigas. Socializo jogando xadrez. Sou grossa inconscientemente (ou não). Gosto de preto. Estudo sempre na última hora. Tenho personalidade forte, mas não sei me expressar direito. Não consigo emagrecer. Falo sozinha em inglês assim pareço menos louca, caso seja flagrada. Sei montar o cubo mágico. Ando sorrindo/chorando na rua. Sou incomum.
Sofro de depressões simultâneas e, ao contrário do que digo, a solidão não me consola. Confundo sentimentos, atropelo emoções: quero tudo para ontem e não me contento com o amanhã. Sou lunática, frenética, energética, mas vivo exausta de tudo e de todos. Quero ficar acordada até tarde, mas devo acordar cedo. Sou uma antítese.
Sou eclética nos meus gostos. Uma metamorfose quanto a opiniões. Agudamente egocêntrica, principalmente quando não devo. Orgulhosa de carteirinha, dramática do travesseiro.  Consolo minha mente com chocolate e vinho. Desprezo quem me ama. Amo quem me odeia. Gasto muito apenas pelo desprazer de querer ser vista. Sou confusa. Sou genérica. Sou única. Sou um conjunto de pessoas destroçadas, de sentimentos variantes, de medos absurdos e de obsessões estranhas.
















Mona M.

A Poesia de Bob Dylan

Muitos tinham mais presença de palco que Dylan, eram ou mais performáticos, ou mais coloridos, ou mais brilhantes de glitter, ou mais esfarrapados e vira-latas. Bowie era bem mais excêntrico. Iggy era bem mais selvagem. Springsteen bem mais enérgico… E ele? O que é que Dylan tinha demais? O que o distinguia de todos os seus contemporâneos? Por que foi entronado como um ícone cultural desse tamanho? Como pôde ser transformado em mito sem nem precisar da morte, a grande mitificadora?


O poder de Bob Dylan parece emanar, sobretudo, de sua poesia. A voz anasalada e hoje já embargada do velho Zimmermann, com seus 70 anos de idade, não é lá grande coisa quando comparada à de um Sinatra ou uma Ella Fitzgerald. Suas melodias, tampouco, eram tão imediatamente memoráveis quanto às de Lennon & McCartney.
Dylan disse que quando não se tem nada, não há nada a perder. Ele tinha talento de sobra, mas acredito que ele ainda não saiba disso. Diria anos mais tarde, Janis Joplin, que ele era apenas o carteiro que entregava letras a grandes vozes. Um pessimista misantropo, segundo Joan Baez e, talvez ela, seu grande amor. Bloewing In The Wind ficou arduamente suave em sua bela voz. Eles tinham grande sintonia. E foi ela quem o classificou como um poeta sonoro, que dá letra a quem tem melodia.
Então, não conheço resposta melhor que esta: foi a poesia. Difícil acreditar que a poesia possa tudo isso? Mas quem foi o miserável que inventou a mentira abominável de que a poesia é algo… impotente? Que ideia pouquíssimo poética, digna de burocratas! Os maiores poetas são aqueles que, justamente, acreditam na potência da poesia. Sabem que palavra não é uma coisa à toa, uma bestice sem relevância, um punhado de fonemas que se dissolve ao vento. Sabem que palavras mudam consciências, animam sentimentos, despertam entusiasmos, apontam estrelas. Sabem que falar é agir, e que a palavra cantada (melodiada, rimada e ritmada) talvez haja com ainda maior eficácia e impacto do que aquela aprisionada no papel. O grande poeta sabe que discursos movem e comovem. Que são instrumentos de transformação (inclusive social, política, cultural). Que não há revolução silenciosa.
Com sua inebriante voz, Bob Dylan mergulha adentro da mente do poeta atormentado, aquele que se dispõe a dor, ao sofrimento, que se doa inteiramente à poesia. Essa, talvez seja a função desse poeta imortal, causar revolução nas mentes brilhantes que o escutam.



P.S.: Texto adaptado para os padrões universitários de professores ignorantes.










Mona M.

Sem Título (Terceiro)

Faz-me falta
Tua presença diária
Voz de sorriso velado
Em palavra fugidia Faz-me falta
A ilusão de um verso
Que adivinho secreto
Dando cor a cada dia
Fazes-me falta
Tu que hoje ainda não sei
Sabendo já entretanto
O que o regresso inicia.
Hoje em que te sinto faltar
Dia de silêncios estranhos
Espero a doçura do chegar.

(Para um amor perdido)




Mona M.

Sem Título (Segundo)

Sem rumo,
talvez.
A vida dirá
da rota traçada.
E mais uma vez
não se dobrará
o fio-de-prumo,
vertical marcada
na linha de fogo
que corta o caminho.
Assumo este nada,
ponto em que afogo
o sonho interdito.
Sobra-me este grito
que lanço sozinho
no tempo infinito.

Mona M.

Sem Título (Primeiro)

Necessário é
atravessar o túnel de chuva
onde o silêncio fez ninho.
Passar a barreira do eco
de antigos sons murmurados.
Sacudir na volta da estrada
o peso carregado de sentir.
E seguir.
Rumo ao lugar isolado
onde teu canto está sozinho.

Dirá sol nos dias esperados.
Que a vida é sempre o porvir
dito em silêncio ou gritado
e é certo o tempo de chorar.
E o de amar foi-se no findar da noite quente e chuvosa...

Amar-te foi minha altroz salvação.


Esteja em paz!








Mona M.

Por que não ser...

Porque não ser gato
deitado em novelo no quente da lareira?


Passear pela beira de algum telhado.
Ser gato, tão mimado
no passar do pelo em peles desejosas
das carícias que ousa de forma esquiva.

Ser gato, de uma vida,
que sete seriam o tempo alongado,
tédio marcado para uma hora certa.
Ser gato e ter aberta, à força de querer,
a porta de saída para ser mulher.













Mona M.

Luz

Que exista sempre esta manhã de claridade
e a luz do sol em voo rasante sobre o Tejo
som da gaivota que me fala de saudade
barco que entra pelo porto do meu peito
dia que nasce na maré do teu desejo!
E que, na alma que viaja sobre o leito
daquele rio que o sonho vê primeiro,
habite límpida esta onda sem idade
que agora embala o convés do cacilheiro!




Mona M.

Alma Aberta

Não olhes. Vê.
Mesmo que os olhos
te ardam.
Não toques. Sente.
Mesmo que o corpo
te doa.
Não fales. Diz.
Mesmo que a alma
te sangre.

De ti quero a palavra aberta
transcrição clara dos sentidos.




Mona M.

Domingos


Agora as tardes já se perdem
no vulto dos barcos no ocaso.
No sonho de navegar olhos vagueiam
por letras do passado em corpo lasso.
Há rotas por explorar em fim de dia
antigos risos refletem o sol poente.
Soltam-se sonhos
lembranças vagas de outra gente
que não nós,
ancorados na tarde da melancolia
à margem de uma vida já urgente.




Mona M. 




Sobre Pássaros

Andorinhas são aves que possuem elegância, beleza, agilidade e simplicidade. São fiéis à sua colônia.
Andorinha lá fora está dizendo:


— "Passei o dia à toa, à toa!"




Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa . . .


(Manuel Badeira)


Pequeno grão de trigo, andorinha... Neruda

Pássaros de minha vida,
em que tudo passa voando,
estes, passam brilhando nesta sombra...

Levem-me convosco, andorinhas dos dias distantes
Partamos para terras diferentes
Onde o sol brilha.
Dêem-me o belo voar, prenúncio de horas felizes
Não quero pouso permanente
Chega um abrigo.
Ensinam-me tudo, alegria dos alvos beirais
Dos vossos efêmeros ninhos quentes
Casa de breve carinho.
Partamos agora, andorinhas do tempo antigo
Alcançais o beiral da minh'alma
E levem-me convosco.

Mona M.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A Valsa e o Mar

Não sei dançar valsa.
Nunca coloquei meu coração numa balsa,
Quiçá num navio em alto mar.
A verdade é que como ocorre na dança, não sei velejar.

Inconstante e profundo.
Infinito lar de moribundo.
Valsa solene do mundo.
Coração: jovem vagabundo.

Dança sem onda,
Sem ritmo e profundidade,
Assim és tu, nobre nome de insignificância.

Dor e alegria misturam-se na estrada desse nada
O mar, longínquo e belo,
A valsa, etiquetada e planejada a cada passo.

Assim, nada se sabe destes ou daqueles...
Apenas que compôe cá, este coração vazio de luz.

Mona M.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Acid Burns (2)

Hoje foi um dia dificílimo.
Foi um dia "bolha". Bolha é como chamo quando atinjo um determinado ponto, em que as dores do presente me remetem diretamente às dores do passado, dando-me delirante sensação de que fui catapultada até aquela tenebrosa época que foi minha infância. Já acordei com a enxaqueica estourando na nuca. Acreditando no sonho que estava tendo. Sabe quando acordamos no meio do sonho e seguimos achando que ainda estamos nele? Pois é, foi assim.
Odeio sonhar por tal razão: nos vemos como estamos internamente. Não dá para disfarçar diante de um sonho. Através das nuanças dos delírios sem nexo, revelamos uma radiografia das nossas partes internas, implacável, em que cada mancha, mesmo após mil lavagens, pode ser detectada, gritante, no lençol que encobre as verdades. Eu sei, deveria ficar quieta.

Mona M.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Sobre Ser

Devo reconhecer que ninguém me conhece. Não realmente. Os que mais sabem não sabem da metade. Não deixo todos os segredos escaparem de mim, não mesmo. Uma delicadeza com os outros, eu diria, pois não quero assustar as pessoas com meu passado. Em especial, aquelas que continuaram gostando de mim após o pouco que souberam.
Sou literalmente outra, e é isso que tento expressar. Quando digo que finjo, quero, na verdade, dizer que sou igual a todo mundo que é "normal": desempenho bem o meu papel. Não sou aquela assassina de filme, que parece uma inocente dona de casa, pondo bolos para assar, mas mata carteiros. Sou o que pareço ser, tanto qualquer um que conheço. Finjo, sim, porque ninguém pode ser o que verdadeiramente é. Até aquela que fui fingia, e continuaria fingindo, inofensiva, se não tivesse sido provocada ao ponto que fui, sendo obrigada a fazer algumas coisas não muito legais como derradeira solução.

Mona M.

Acid Burns (1)

As minhas manchas poderiam estar em sofisticados bordados, ou até serem resultado de secreções mais nobres que as minhas sujeiras. Entretanto, não sendo escritora, o sangue em meu vestido não é vinho. Não posso transformar porra em mingau de aveia; a lama em meus sapatos é pura merda. E durante essas semanas em que venho insistindo na minha mentira, juro, tenho sentido os meus rins doerem, na vã tentativa de me dar algum incentivo. Meu fígado se revira, em busca de desopilar a química desse remédio, que é desabafar em verbo, e o meu estômago arde e regurgita, porque palavras como as que sou obrigada a usar são indigestas até para frias miseráveis desgraçadas, como eu.

To be continued...

Mona M.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sobre Café Ou Não



Nada melhor do que uma xícara de café.
Não importa a circunstância: café é minha arte.
Não que eu saiba preparar algo sublime, não sei. O café que faço é horrível e sua utilidade talvez seja tão importante quanto uma ameba.
Minhas memórias são tão fortes quanto o coffee que preparo. Talvez não tão horríveis.
O fato é que, mesmo não sabendo o que escrever at 02 a.m., criei o blog e nada mais digno do que falar do título.
Digno?! Só se eu estiver falando da dignidade da loucura... Não! Esse é outro assunto.
Sempre acreditei que meus textos devessem ficar trancafiados em uma gaveta ou irem à fogueira da Satíssima Inquisisão Moderna. Sim, medo de auto-exposição.
Aqui, nesta folha em branco virtual, deixarei algo meu, um fragmento no imenso universo do que é escrito e nunca falado.


Leia enquanto bebe um bom café, nada literário demais nem pessoal demais, apenas algo que deve ser lido. Porque palavra escrita só tem valor quando é lida por alguém. 

Mona M.